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  • Foto do escritorAlessandra Barrozo

O Ministério da Saúde interverte

A cada 15 dias, André ingere um comprimido de ivermectina. O morador de Porto Velho, de 50 anos, usa a receita do médico Moacir Toledo que recebeu por um aplicativo de mensagens. A receita de “medicamentos sugeridos para uso preventivo continuado durante a pandemia por COVID-19” inclui também vitamina D e zinco.


Os medicamentos formam, com a Cloroquina e a Hidroxicloroquina, o “Kit Covid”, promovido pelo Ministério da Saúde desde o ano passado. O kit promete prevenir ou amenizar os efeitos da Covid-19, o chamado “tratamento precoce”. O Conselho Federal de Medicina, que em 2020 aprovou parecer facultando aos médicos a prescrição dos remédios, assume agora posição menos favorável: não recomenda nem aprova o tratamento.


A microbiologista Natália Pasternak, USP, comenta que há “mais de 30 trabalhos feitos no padrão ouro que mostram que esses medicamentos não servem para Covid-19”. O mesmo assinala Gerson Pianetti, professor da UFMG. Para ele, os efeitos negativos, como a degradação do fígado, não valem a pena, já que não há benefícios em contrapartida.


Por que, então, médicos seguem receitando a cesta? Em seu canal, Moacir cita o Código de Ética Médica em seu capítulo 5 – “É vedado ao médico deixar de usar todos os meios disponíveis [..] cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente” – para defender o tratamento. Parece esquecer que os medicamentos foram, sim, reconhecidos: como incapazes de cumprir o papel contra a Covid-19 e potencialmente danosos.


A insistência do governo em endossar o tratamento precoce salienta sua irresponsabilidade. A narrativa defendida pelo Ministério não é nociva apenas pelos efeitos colaterais injustificados do uso: reverbera no comportamento que a propaganda pode causar. Quem, como André, se sente melhor com a receita milagrosa enfrenta a pandemia com a falsa sensação de proteção e menor preocupação com medidas eficazes, como distanciamento e uso de máscaras. "Máscara, álcool, às vezes a gente escorrega", confessa.

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